Setembro Amarelo: dados apontam aumento no número de jovens com depressão
Crise financeira não foi o único resultado negativo da pandemia. O abalo da saúde mental também tem sido um fator crescente desde então. Uma pesquisa conjunta entre a Vital Strategies e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), chamada Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), apontou que houve um aumento de 41% nos casos de depressão no Brasil, entre antes da covid-19 e o primeiro trimestre deste ano.
A Covitel constatou que para os jovens de 18 a 24 anos, a depressão foi de 7,7% para 14,8% nos dados mais atuais. Esse foi o maior aumento entre as outras faixas etárias. Adultos até 40 anos também estão nas estatísticas, entre os mais atingidos pela doença.
Em entrevista ao Jornal Semanário, o psiquiatra Rodrigo Tramontini acredita que a pandemia e a crise financeira que a acompanhou abalaram as expectativas dos jovens até 24 anos, pois é nessa fase que estão começando a vida adulta e entrando no mercado de trabalho. “O cenário mais pessimista agravou o estresse que normalmente já sofremos nessa etapa, já que o futuro se tornou mais incerto e inseguro. Foi uma grande desilusão para uma geração que cresceu acreditando que tudo é possível”, explica.
Além disso, o médico destaca que o desamparo sentido pela perda de familiares, pelo isolamento e pela ameaça à própria vida também contribuiu significativamente para tais resultados. “Por último, a cultura dominante nessa faixa etária dificulta a resolução desses problemas, já que estimula o entretenimento acima de qualquer tentativa de pensar e refletir sobre o que nos angustia”, revela.
Os motivos desencadeadores podem ser vários, de acordo com a história de vida de cada um. “Além dos fatores pós-pandêmicos, situações de humilhação, abuso e rejeição e de isolamento social são especialmente comuns como desencadeantes nessa idade”, indica.
Quais os sintomas da depressão e como identificá-los?
Conforme Tramontini, os sintomas variam muito. “Incluem falta de energia, perda de interesse por atividades que normalmente costumavam ser prazerosas, tristeza excessiva, dificuldade de concentração e memória, excesso ou falta de sono, alterações de apetite e pensamentos negativos sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o futuro”, exemplifica.
Ademais, o psiquiatra frisa que é comum que a pessoa se ache pior do que os outros e se isole, que sinta remorso exagerado por erros do passado ou que ache que viver não vale a pena. “Alguns se sentem mais cansados e sonolentos, mas outros podem se sentir muito ansiosos, agitados e irritados. A pessoa também fica mais propensa a comportamentos compulsivos para tentar se aliviar dos sintomas, abusando de álcool e drogas ou trabalhando em excesso, por exemplo. O funcionamento do indivíduo nos estudos, trabalho ou relacionamentos fica invariavelmente prejudicado em casos de depressão clínica”, esclarece.
Como ajudar?
Para prestar solidariedade e auxiliar quem está enfrentando esse problema, o médico aconselha que o primeiro passo é não julgar. “É comum que a pessoa que esteja passando por um quadro depressivo seja rotulada negativamente pela falta de motivação ou pelo desejo de se isolar, por exemplo. Querer dizer o que ela deve fazer para melhorar ou comparar ela com outras também não costuma ajudar em nada. O melhor a fazer é escutá-la e demonstrar que você a está apoiando incondicionalmente. Gestos de afeto são muito mais importantes que palavras. Orientar a buscar ajuda profissional também é essencial quando o quadro for persistente”, sugere.
De acordo com Tramontini, ter uma rede de apoio nesses momentos é fundamental. “O ser humano é sociável por natureza e o amparo de outras pessoas é primordial para a recuperação de um quadro depressivo e para a manutenção de uma boa saúde mental”, menciona.
Como prevenir a depressão?
Segundo o psiquiatra, existem muitas formas de prevenir a depressão, desde intervenções individuais até sociais mais amplas. “Falamos pouco sobre elas e muito mais sobre como a depressão se manifesta, mas é na prevenção, e não no tratamento, que está a chave para que possamos melhorar a saúde mental dos nossos jovens. A atenção à primeira infância é essencial, por exemplo, pois a relação com os adultos cuidadores nos primeiros anos de vida é a base da nossa regulação emocional. Educar nossas crianças a se expressar emocionalmente e a tolerar sofrimentos e frustrações normais também é importantíssimo”, recomenda.
Por fim, o médico recomenda manter boa saúde, incluindo alimentação adequada e atividades físicas, fortalecimento de vínculos familiares e sociais, redução de desigualdades e uma educação mais voltada para a busca de propósitos de vida. “Nossa sociedade também precisa abandonar estigmas sobre saúde mental para que possamos prevenir mais e melhor. Não podemos nos aprofundar no assunto e encontrar soluções se ele permanecer um tabu”, finaliza.
Centro de Valorização da Vida
O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, pelo número 188, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
*Com informações de: Jornal Semanário